sábado, 28 de abril de 2012

.: CINEMA .: Os Vingadores


Texto de: Thiago Cardim


Era uma vez um moleque na longínqua cidade litorânea de Santos, curtindo com os amigos um vício louco por quadrinhos de super-heróis em uma era pré-internet. Em um mundo mais inocente, ele e os seus jovens camaradas se afundavam nas parcas informações sobre os lançamentos da terra do Tio Sam lendo a Wizard gringa e outras (poucas, diga-se) publicações em inglês. E em torno da maior banca da cidade, lá se iam horas e horas de discussões sobre qual herói venceria qual em um confronto fictício e, claro, quem deveria interpretar este ou aquele justiceiro mascarado em uma inimaginável adaptação para os cinemas. Era uma realidade na qual os filmes inspirados em gibis estavam apenas nos casting calls que rabiscávamos entre nós. Este moleque cresceu, amadureceu, casou, tornou-se pai e hoje tem dinheiro para comprar seus próprios gibis. E este mesmo moleque, agora na casa dos 30 anos, vibrou como um moleque de 12 anos ao assistir “Os Vingadores”, a cristalização de um sonho. O porta-aviões voador da SHIELD existe. E está voando de verdade! Este moleque, que sou eu (dã!), queria que um filme de quase três horas tivesse pelo menos mais duas horas adicionais. Porque merecia. Demais.  

“Os Vingadores” é, numa definição óbvia e que você deve ler trocentas vezes ao longo dos próximos dias, um verdadeiro orgasmo nerd. Aliás, não apenas “um”, mas diversos, múltiplos e sucessivos orgasmos nerds. “Os Vingadores” é uma superprodução que faz jus ao “super”, que entrega exatamente tudo que prometeu em cada um dos trailers e tudo o que o espectador que vinha acompanhando cada novidade desde o começo esperava. É um blockbusterdivertidíssimo, com cenas de ação épicas e megalomaníacas, efeitos especiais no talo e explosões destruindo Nova York de tal forma na sequência final que já daria para chamá-lo facilmente de “filme-catástrofe”. Mas também tem excelentes pitadas de humor, muito bem dosadas e sem exagero. E diálogos deliciosos e inesquecíveis, com frases de efeito para fazer Brian Michael Bendis se orgulhar. É uma película que dá gosto de ver, ao lado de um batalhão de amigos e com um enorme baldão de pipoca. É um programaço para os fãs de quadrinhos – mas que qualquer fã de cinema do tipo “entretenimento” vai simplesmente adorar. É filme para se ver mais de uma vez, insisto.

A história de “Os Vingadores” é bem simples, na verdade: depois de ser destronado e humilhado por seu irmão adotivo, o deus do trovão Thor, eis que o trapaceiro Loki quer vingança. E ele resolve se vingar lançando sua ira sobre Midgard – no caso, a Terra, lar do povo protegido pelo portador do Mjolnir. Para concretizar seu ato de ira, ele forja uma aliança com uma raça bélica alienígena, os Chitauri (também conhecidos como “os Skrulls do universo Ultimate”). E parte em busca de um artefato milenar que pode dar-lhes ainda mais poder para colocar a raça humana de joelhos: o Cubo Cósmico, aqui chamado pelo nome de “Tesseract”. O caso é que o tal Tesseract estava em posse da agência secreta do governo chamada SHIELD – e Nick Fury, seu diretor e maior badass da região, não vai deixar a provocação barata. E vai apelar para aquele que era o seu plano B em casos de catástrofes super-humanas: um grupo de seres problemáticos com poderes além da compreensão do homem comum e que, obviamente, têm grandes chances de não se dar muito bem – e, rapaz, antes de trabalharem juntos, como estes caras brigam entre si. A porradaria come solta antes que eles resolvam levar a pancadaria para o lado dos vilões da jogada.


Sob o comando de Joss Whedon – cineasta, quadrinista e nerd profissional – “Os Vingadores” passa longe de um dos maiores receios que se tinha ao reunir um elenco destes: que se trataria de uma trama que mostraria o grupo de maneira desigual. Sim, é claro que o Tony Stark de Robert Downey Jr. rouba a cena várias vezes (as conversas pseudocientíficas entre ele e Bruce Banner são de tirar o chapéu), mas o filme não é só dele. Todos têm espaço – a começar pelo egomaníaco antagonista, um malvadão clássico repleto de defeitos e cujo objetivo é o mais do que clássico “quero dominar o mundo”. O Capitão América tem seus muitos momentos de liderança do time e ainda rende cenas impagáveis estreladas por um homem parado no tempo tentando entender o mundo de hoje (“Só existe um Deus, ele não se veste assim”, diz ele, sobre o companheiro de equipe vindo de Asgard). O filho de Odin é uma máquina de distribuir marteladas, mas que no fundo tem bom coração. A Viúva Negra de Scarlett Johansson é muito mais do que um enfeite para os marmanjos e protagoniza uma cena antológica com Loki, sem desferir um único soco. Isso sem falar no Gavião Arqueiro, cuja atuação precisa de Jeremy Renner gera um personagem ao mesmo tempo cool e letal – sim, fica claro que um sujeito de mira infalível e armado apenas com um arco e flecha tem total direito de estar ao lado de uma maravilha tecnológica, um deus nórdico e um supersoldado da Segunda Guerra Mundial. Os alienígenas que o digam.

Com relação ao Hulk, aqui vivido por seu terceiro intérprete na última década, cabe um parêntese especial. Ok, Mark Ruffalo não faz feio na pele do retraído Banner – mas quando ele se enfurece e o Gigante Esmeralda aparece, eis que a mágica acontece. Não apenas temos o Hulk com o melhor acabamento visual até então, mas também o mais raivoso, o mais furioso, o mais potente e violento. Quando ele esmaga, ele esmaga MESMO. Não sobra pedra sobre pedra. Daria medo, se você não estivesse ocupado demais vibrando e torcendo para que ele cubra mais alguma coisa de porrada no meio do caminho.



Se “Os Vingadores” tem um defeito, claro, só pode ser o fato de que o Capitão América não grita “Avante. Vingadores!” (ou “Avengers, Assemble!”) em nenhum momento. Talvez ainda fosse cedo demais, os caras acabaram de se conhecer. Quem sabe num segundo filme, não?

Aliás, preciso dizer: “Os Vingadores” é daqueles filmes com pelo menos três níveis de significado. O primeiro deles é para o público em geral, cujo ingresso significará boas horas de diversão. O segundo é para aquelas pessoas que vêm acompanhando os filmes da Marvel no cinema ao longo dos últimos anos e vão ligar os pontos entre as tramas imediatamente, interligando as menções ao Tesseract (visto no filme do Thor e ao longo de toda a trama do filme do Capitão América) e à Iniciativa Vingadores (mencionada no final do filme do Homem de Ferro), entre outras. Para este segundo nível, a trama vai soar ainda mais gostosa e fazer ainda mais sentido. E o terceiro nível de significado, é claro, presenteia os fãs de quadrinhos. Porque são eles, e apenas eles, que vão sacar a cena presente no final dos créditos. Sim, uma cena já aguardada por quem vem ficando de olho na boataria – e que dava para sacar que estava se desenhando, se você é um cara esperto, já pelos papos do Loki já no começo do filme. Mas, quando acontece, é divino. Por mais que você suspeitasse. É uma coisa tão pequena, tão rápida. Mas que vai inflamar os fãs de HQs, fazê-los gritar no cinema, deixando os “não-fãs” com uma cara de ponto de interrogação. Acredite em mim.

Obrigado pelo presente, Joss Whedon. Sei bem que foi de fã para fã.

PS: Fique ligado na participação do Stan Lee desta vez. É bem rápida. Piscou, perdeu!

Os Vingadores (The Avengers, 2012)
Diretor: Joss Whedon
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Tom Hiddleston, Clark Gregg, Cobie Smulders, Stellan Skarsgård, Samuel L. Jackson, Gwyneth Paltrow

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