O filme conta a
história do jornalista Mikael Blomkvist, acusado de difamar Hans-Erik
Wennerström. Na busca de conseguir a credibilidade novamente, ele recebe
uma proposta do empresário Henrik Vanger para descobrir escrever a história
da Vanger Corporation e solucionar o mistério do desaparecimento de
Harriet. Ele conta com a assistente anti-social e body modificated Lisbeth Salander que, se não
era para ser o centro da história, acaba roubando a cena. Suas aparições
são acompanhadas do som de maioria instrumental.
A hacker cyberpunk Lisbeth Salander é uma das personagens
mais interessantes a surgir na cultura pop nos últimos anos, mas sua presença
no imaginário sempre esteve comprometida pela pouca repercussão que a
adaptação sueca da trilogia Millenium teve no mundo. Agora, David Fincher a coloca no patamar mais alto
que uma criação pode chegar em termos de popularidade: um blockbuster
de Hollywood. Este remake americano de Os
Homens Que Não Amavam As Mulheres, que chegou esta semana aos cinemas, é um dos mais instigantes
thrillers da temporada e, bastante diferente do filme original, tem uma
proposta comercial e autoral na medida certa.
David Fincher manteve o foco em
duas frentes: fazer um suspense perturbador como é sua especialidade
(lembrem-se de Seven e Zodíaco) e dar atenção
especial à Lisbeth, aqui vendida como uma diva gótica que exaspera tudo o
que a monotonia classe média desaprovaria. Ela é mal educada, fria,
veste-se como uma punk, fuma compulsivamente e só se alimenta de junk
food. Ainda por cima é lésbica e, como hacker, frequentemente comete crimes
ao invadir sistemas e computadores alheios. Ainda assim, possui um
senso de justiça e honestidade bem rígidos.
Ela está no meio de uma trama passada
na Suécia que a coloca ao lado de um jornalista para solucionar um misterioso
desaparecimento de uma adolescente, há mais de 30 anos. Juntos, eles precisam
investigar uma rica e tradicional família de industriais para saber
qual a relação do passado nazista desse clã com a suposta morte dessa menina.
Quem já leu o livro ou viu o filme sueco já irá saber quem foi o autor do
crime, mas Fincher entregou uma obra bem diferente, e instigante para os
fãs da série.
É que no original sueco, feito
em 2009, o foco estava no conceito por trás dos escritos de Stieg Larsson. O
autor, morto em 2004, tentou mostrar uma Suécia escondida aos olhares internacionais,
cheia de podridão, como violência, ligações com tráfico de seres humanos
e facções neonazistas ainda atuantes. No longa de origem, a trama tem um
tom mais psicológico com a intenção de expôr a violência contra a mulher
e o discurso do ódio que ainda vive escondido na sociedade sueca. Os três
filmes fizeram a fama de Noomi Rapace, atriz que despontou internacionalmente
e que tornou-se famosa como a primeira Lisbeth.
Fincher é mais técnico. Seu
filme é uma superprodução, com trilha sonora de Trent Reznor que cria uma
atmosfera sufocante e tensa durante todos os seus longos 158 minutos de
duração. À primeira vista, pode-se dizer que esse remake é bem superior, mas
são obras com propostas bem distintas. Rooney
Mara, revelação deste ano, está ótima como Lisbeth. Ela construiu uma personagem
mais violenta e mórbida que sua contraparte sueca. A cena em que se vinga de
um agressor com requintes de crueldade é perturbadora. Mas, ao mesmo
tempo convida o espectador à aproveitar com ela o prazer daquela vingança.
Bem merecido sua indicação ao Oscar de melhor atriz.
Cena do filme Millenium - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres
Sua presença é tão marcante que
acabamos esquecendo que Daniel
Craig, como o jornalista Mikael Blomkvist e Stellan Skarsgård como um dos membros
da família Vanger, também estão ótimos. Fincher surpreendeu com seu olhar
particular de uma das séries mais aclamadas de todos os tempos. Mais do
que agradar aos fãs dos livros, conseguiu voltar à melhor forma de seus maiores
sucessos.
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